Disco Voador

 

“Eu sempre estou por aqui pela janela. Não vejo arranhões no céu, nem discos voadores. Os céus estão explorados, mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou no meio sangrando. Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no deserto.

Eu sempre quis ser isso mesmo, uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica.

Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gesto de rua, gravações de rádio, fragmentos de TV.

Mas eu sei que meus lábios são transmutações de alguma coisa planetária. Quando eu beijo, eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de Saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha grande dor, que improvisou com restos de cinema e de disco voador, UM AMOR!”

(Fragmento do texto de Fausto Fawcet, Adaptado, como sempre, por Pedro Assumpção.)

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